Filosofia pop (trecho)
Não faz muito tempo que ler sobre filosofia era visto como coisa de
gente que pensa demais, que vive em um mundo paralelo. Mas, desde o
começo da última década, uma nova geração de pensadores vem se dedicando
a popularizar a disciplina. Nomes como o suíço radicado em Londres
Alain de Botton, o britânico Trevon Curnow e o americano William Irvine
têm mostrado que pensadores das antigas podem ajudar você com eternas
questões da humanidade, claro, mas também com problemas contemporâneos,
como a ditadura da magreza ou o excesso de estímulos provocado pela
internet.
A proposta tem feito sucesso. Basta um
passeio por livrarias para constatar que a filosofia está na moda. Nas
listas de mais vendidos há volumes como Aprender a Viver: Filosofia para
os Novos Tempos, de Luc Ferry, e The Guide to Good Life (O Guia para a
Boa Vida, sem edição brasileira), de Trevon Curnow. No Brasil, O Livro
da Filosofia, de Will Buckingham, e Nietzsche para Estressados, de Allan
Percy, estão no top 10 de não ficção. “O momento é propício. Vivemos em
um mundo de acúmulo de informações e falta de significados. As pessoas
estão se vendo forçadas a pensar filosoficamente para encontrar um
sentido na vida”, afirma o australiano Peter Singer, professor de
filosofia da Universidade de Princeton, nos EUA, e autor de Ética
Prática.
Essa nova onda se baseia em uma antiga
tradição da filosofia que reflete sobre a vida e serve de guia para a
nossa existência — em vez de se preocupar com a definição de conceitos,
como justiça, ética e verdade. Sábios da Antiguidade, como Sócrates,
Sêneca e Epicuro, e alguns mais próximos na história, como Schopenhauer
(1788- 1860) e Nietzsche (1844-1900), trabalhavam nessa linha de
filosofia para o dia a dia, que renasce também em palestras, cursos e
até em uma nova forma de terapia.
Nos EUA e na
Europa, já existe a chamada terapia filosófica. Em consultas, o paciente
fala livremente sobre sua vida, dificuldades e interesses, e o filósofo
analisa o discurso e tenta mostrar as lições que pensadores como Platão
e Aristóteles têm a apresentar no caso. Os profissionais são
credenciados por associações como a Sociedade Americana para Filosofia,
Aconselhamento e Psicoterapia, que tem 300 terapeutas licenciados — há
10 anos, eram 90. “As sessões ajudam com um problema que está na raiz de
muitas crises de depressão e ansiedade hoje: o excesso de expectativas
em relação à felicidade e ao amor”, diz Lou Marinoff, analista
filosófico e autor de Mais Platão, Menos Prozac!.
Mesmo quem não pretende trocar Freud e Lacan por Sócrates ou Nietzsche
tem encontrado espaço para filosofar. As instituições que oferecem
cursos livres na área só se multiplicam. Com promessa de chegar ao
Brasil neste ano, desde 2008 funciona em Londres a Escola da Vida,
fundada por Alain de Botton, um dos expoentes da popularização da
filosofia. Autor do novo livro Religião para Ateus e famoso por seu
Consolações da Filosofia, de Botton mostra como as ideias de pensadores
de outros tempos podem ajudar em questões atuais. Sua escola segue a
proposta, com palestras e cursos sobre dieta vegetariana, equilíbrio
entre trabalho e vida, como ser cool e as diferenças entre amizade real e
virtual. “A filosofia é um modo de pensar. Pode descrever qualquer
assunto — sexo, bebês, dinheiro, esquis.”
por
Tiago Cordeiro | Ilustrações: André Bergamin
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI299870-17773,00-FILOSOFIA+POP+TRECHO.html
Leitura...
ResponderExcluirparabéns pela abordagem professor André Abreu. Vou aproveitar o excelente conteúdo explanado nessa matéria para estudar sobre os autores que você mencionou... para mim esses tres estudiosos contemporaneos são novidades. abraço. Severo
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